Manter vivo um sonho. Esse é o desafio de José Uemerson Nascimento, um atleta de 14 anos, que é membro da Escolinha de Futebol Cacique Náuas, localizada no bairro São José, zona periférica de Cruzeiro do Sul.
“Sonho em ser um jogador de futebol profissional”, afirma o adolescente. “Com isso, realizarei outro grande desejo meu, que é dar uma vida melhor para a minha família”, complementa.
Para concretizar a meta, Uemerson terá de vencer barreiras, mas a solução para algumas delas independem dos seus anseios de garoto. Atualmente, apenas 6, das 18 escolinhas de futebol de Cruzeiro do Sul, a segunda maior cidade do Acre, funcionam.

Se confirmada a tendência, o encerramento das atividades com a base no município afetará uma média de mil crianças que usufruem dos serviços. “Sinceramente, não me vejo sem esse lugar, pois é aqui que busco diversão e me afasto de coisas ruins, praticamente todos os dias”, lembra Uemerson, que é lateral-direito de ofício.

A saída para o menino de periferia é perseverar e não desistir. “Apesar das dificuldades, vou manter vivo o meu sonho”, garante Uemerson.
Outros caminhos
A falta de incentivo, sobretudo do poder público, é o grande gargalo que separa crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade de políticas essenciais para o desenvolvimento e à transformação social.
Há quatro anos atuando como treinador da escolinha Ajax, no bairro Miritizal, segundo distrito de Cruzeiro do Sul, Héctor Elias do Nascimento relata as dificuldades de manter o trabalho social sem apoio.

”Parei por conta da falta de recurso e apoio. Eu já estava tirando [dinheiro] do meu bolso para manter as atividades na escolinha, e a quantia me fazia falta, o que me levou a passar fome”, conta o técnico.
Pelas ruas e vielas do Miritizal, Héctor informa que, com frequência, vive uma triste experiência. “Quase sempre, encontro ex-alunos meus consumindo drogas e inseridos num mundo paralelo”, frisa.

O professor aponta eventuais consequências da suposta falta de fomento ao esporte na região. “O fechamento das escolinhas leva essa ‘garotada’ a procurar outros caminhos. Fico triste e desanimado, porque quase sempre acabam caindo na criminalidade”, opina.
Lei de incentivo ao Esporte é descumprida pela prefeitura de Cruzeiro do Sul, afirma Conselho
Lançada em 2022, a Lei Municipal de Incentivo ao Esporte vem sendo descumprida, há pelo menos dois anos e meio, pela prefeitura de Cruzeiro do Sul, segundo o Conselho de Esportes no município.
Ao AgoraAcre, a direção de Esportes da prefeitura negou as acusações. O diretor Gilvan Ferreira informa que projetos foram agraciados no último lançamento da Lei, e que boa parte deles não foram executados, apesar da liberação dos recursos, que foi efetuada em meados de 2023 e 2024.
O gestor informa que ainda este ano haverá um novo lançamento da Lei, que visa assegurar recursos para a manutenção de práticas esportivas no município, entre elas as atividades de escolinhas que trabalham com a base do esporte.
“A gente não entende por que os projetos são lançados, é feita a captação dos recursos, e eles não são colocados em prática. Neste ano, faremos um novo lançamento, com um valor superior o da edição passada, mas teremos um controle sobre os gastos e o prazo de execução dos projetos”, pontua o diretor.
No caso das escolinhas de futebol, o incentivo ajuda na aquisição de material, como bolas e coletes, itens que são essenciais para a prática esportiva.
Conselho busca ajuda
Sem parcerias, o Conselho Municipal de Esporte busca alternativas para a sequência do trabalho com a base esportiva em Cruzeiro do Sul. Entre elas, a sugestão do uso do estacionamento da Expoacre Juruá, que é a maior festa de entretenimento e de negócios da região, para angariar recursos à compra do material necessário às escolinhas.

“Recurso que também será útil para o apoio logístico dos campeonatos. Assim, conseguiremos manter esse trabalho tão importante à sociedade cruzeirense”, ratificou José Gomes, representante das escolinhas esportivas no Conselho e também diretor-presidente da Escolinha F10.
Frutos do incentivo à base
Segundo o Conselho de Esportes, o trabalho com a base esportiva propiciou para cerca de 60 atletas a oportunidade de deixar Cruzeiro do Sul visando vaga no desporto profissional.
São exemplos de que a união de esforços em prol da vida, por meio do incentivo ao esporte, gera frutos e forma cidadãos qualificados para lidar com os desafios do mundo contemporâneo e mais preparados para promover a transformação social que Cruzeiro do Sul urge.
”O atleta profissional precisa ter base e ela se inicia com os projetos sociais”, avalia Gomes.
A seguir, veja fotos de talentos cruzeirense que conquistaram espaço no futebol profissional.




Escrita por Eliel Mesquita, da redação do AgoraAcre.