Duas irmãs, de 13 e 27 anos, estão internadas no Pronto-Socorro, em Rio Branco, após comerem molho de cachorro-quente preparado na casa delas. O médico que as atendeu suspeitou de envenenamento por chumbinho (raticida), aplicou um antídoto e as vítimas apresentaram melhora. Elas permanecem em observação e o estado de saúde é considerado estável.
O caso é investigado pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam). A mãe das vítimas explicou à Polícia Militar (PM) que toda a família havia consumido o molho na noite anterior e guardado o restante na geladeira. Na manhã seguinte, as filhas relataram que o molho estava diferente e com pontinhos pretos, mas mesmo assim comeram o restante e em seguida passaram mal.
A reportagem conversou, com exclusividade, com o médico Auérico Pessoa, clínico geral da Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) da Sobral, que atendeu o caso inicialmente. Foi ele quem acionou a Polícia Militar (PM-AC), via 190, e a Vigilância em Saúde do hospital após a suspeita de envenenamento.
De acordo com o profissional, as vítimas são da Vila do V, em Porto Acre, no interior do estado, e haviam consumido o molho cerca de duas horas antes de buscar atendimento na UPA. Inicialmente, imaginava-se que o caso se tratava de intoxicação alimentar.
“De acordo com os sinais e sintomas que apareceram nelas, estavam com a história de passar mal após comer um molho de cachorro-quente. Por isso que se fala em intoxicação alimentar, mas com os sintomas que elas apresentaram, eu pensei em envenenamento por organofosforado, que é a classe que abrange o veneno de rato, chumbinho”, complementou.
Organofosforados são compostos químicos usados em produtos agropecuários, como pesticidas e inseticidas. Já o ‘chumbinho’ é um raticida, vendido de forma ilegal no Brasil.
Após a suspeita, ele aplicou a atropina, que é o antídoto do veneno do rato e elas começaram a responder aos estímulos. Segundo o profissional, se não tivesse sido envenenamento, elas não teriam respondido ao medicamento aplicado.
“Fizemos o antídoto, [que] demorou para estabilizar elas, mas graças a Deus deu certo e estão vivas. Elas chegaram carregadas nos braços de populares, espumando bastante pela boca e [com] o nível de consciência rebaixado”, disse.
Inicialmente, o estado de ambas era grave. Com a suspeita de envenenamento, ele e a equipe médica da UPA encaminharam as pacientes para o PS, para atendimentos de urgência.
“A Saúde prestou toda a assistência, encaminhou para o pronto socorro devido à gravidade do caso, onde elas seguem em acompanhamento”, disse a Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre).
A reportagem entrou em contato com a PM, que informou que uma guarnição atendeu a ocorrência no domingo e então se deslocou à UPA da Sobral. Na unidade, conversaram com um enfermeiro que relatou a situação.
Ainda não há um possível suspeito, segundo o órgão. Até a última atualização desta matéria, a Polícia Civil não respondeu ao contato.
“Os militares conversaram com a mãe das vítimas que não sabe como ocorreu o fato, nem quem possivelmente teria feito isso. Relata que durante a noite anterior todos ingeriram o molho, e na manhã seguinte as filhas foram consumir o restante que estava na geladeira. Elas relataram que o molho estava diferente e com pontos pretos, mas mesmo assim comeram, em seguida passaram mal”, falou.
Briga durante o atendimento
No momento do atendimento de urgência, também foi registrada uma briga entre o médico e o acompanhante de outra paciente que buscava atendimento na unidade. A informação é de que o homem envolvido não concordou com a classificação de risco dada à namorada.
Como ele queria obrigar atendimento de emergência na mulher, o envolvido na confusão não quis sair e começou a filmar o médico. Auérico não concordou com a gravação, tentou derrubar o aparelho e, então, o vídeo começou a circular nas redes sociais após o acompanhante ser expulso do local pelos seguranças.
“Geralmente, se isso acontece [prioridades mais urgentes no atendimento médico], a gente explica, os pacientes entendem, têm a compaixão, né? Agora, esse cara específico não […] ele queria forçar o atendimento da emergência. Um ser humano que foi só para desestabilizar a equipe”, esclareceu o profissional.
Fonte: G1 Acre / Foto: Secom