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Covid-19: série mostra o que podemos aprender após 5 anos da pandemia

Janeiro de 2020. O mundo assistia, ainda sem entender direito, à propagação de uma nova doença. Na China os casos se multiplicavam e os primeiros registros de mortes chegavam. Rapidamente a Covid-19 começava a se propagar por vários países: Itália, Espanha, Estados Unidos. Os países decidem pelo lock down, isto é, pedir para que as pessoas ficassem em casa e que apenas serviços essenciais fossem mantidos.

Enquanto isso, em fevereiro de 2020, o Brasil se preparava para mais um carnaval. Como se a ameaça ainda estivesse muito distante. No dia 26 de fevereiro de 2026 o país confirma o primeiro caso de Covid-19. No dia 12 de março, a primeira morte também é registrada: a empregada doméstica Rosana Aparecida Urbano, de 57 anos.

A médica infectologista Mirian Dal Ben relembra. “A gente com o paciente aqui já, eu me lembro de andar pela rua, vindo para cá a pé e a rua completamente vazia. E no hospital, aquela sensação de um tsunami que estava chegando, com muita gente chegando (em estado) bastante grave.”

No dia 11 de março a Organização Mundial da Saúde, OMS, declarou que enfrentávamos uma pandemia. Andrea Barcelos é enfermeira e trabalhava em um hospital. De um dia para o outro, os casos começaram a dobrar. “Eu me lembro que a gente começou a receber mais casos, não era mais um, dois, três. Eram dez, quinze. Chegou um momento que a gente não tinha mais máscara”.

Em dezembro de 2020, quando os casos continuavam se multiplicando no Brasil, o estado do Amazonas começou a enfrentar a falta de oxigênio. O que se intensificou nos primeiros meses de 2021.

Centenas de valas abertas no Cemitério de Vila Formosa, o maior da América Latina – Divulgação/TV Brasil

Dinne Leão vê o pai ser contaminado. “Meu pai era uma pessoa tão saudável que eu acho que ainda existia aquele mito de que talvez só os mais idosos.”

Aos 76 anos, Gerson Leão dá entrada em um hospital de Manaus com mais 70% do pulmão comprometido. Depois de um mês de internação, acaba morrendo. “Eu saía correndo no corredor, chamando a enfermeira, oxigênio muito baixo. Ela fazia a reanimação e ele voltava. Eu me perguntava: ‘por que comigo? Por que com o meu pai?’ E ao mesmo tempo eu pensava: ‘mas não é só comigo, é com o meu pai e também todo o mundo está passando por isso’.”

Dinne Leão perdeu o pai durante a pandemia

Dinne Leão perdeu o pai durante a pandemia – Divulgação/TV Brasil

Para a professora de Saúde Pública da USP, Deyse Ventura, o que aconteceu na capital do Amazonas foi um crime. “Manaus é um dos muitos episódios que, na nossa memória, passados quase cinco anos, pode ser interpretado como incompetência e nós estamos aqui para lembrar que não foi negligência e nem incompetência, foram crimes que tiveram cúmplices”.

Em abril de 2021, o Brasil registrou mais de 4 mil mortes diárias. Andrea conta que durante todo este período teve que redobrar os cuidados para não contaminar seu filho único, que vivia com ela. “Foram longos meses evitando contato físico. Mas finalmente a gente conseguiu se abraçar de novo”, conta Éric Barcelos, filho de Andrea.

Andrea Barcelos e o filho Eric agora podem se abraçar

Andrea Barcelos e o filho Eric agora podem se abraçar – Divulgação/TV Brasil

E não era só nos hospitais que o medo era companheiro constante dos trabalhadores. O sepultador Luciano Teresin não queria contaminar a família: “Eu fiquei com medo de levar a morte para casa. Levar a morte para a minha esposa, de levar a morte para minha filha, de levar a morte para os meus irmãos.”

Já o companheiro de profissão de Luciano, Wilker Paes, relembra que os enterros foram liberados para acontecer no período noturno. “Começou a vir um carro, às cinco da tarde, aí outro às seis, outro sete…oito. Chegou oito horas da noite e, mesmo com a escuridão do cemitério, nós continuávamos nosso trabalho”, diz.

Wilker Paes foi sepultador no Cemitério Vila Formosa

Wilker Paes foi sepultador no Cemitério Vila Formosa – Divulgação/TV Brasil

Foi também em 2021 que o Brasil viu chegar a grande esperança: a vacina. O diretor-geral de Bio-manguinhos/Fiocruz, Maurício Zume, afirma que a produção do imunizante em tão pouco tempo foi graças ao empenho de todos os profissionais da ciência em todo o mundo. “Foram seis meses, aproximadamente, que nós levamos. Um processo desse normalmente leva anos. Em seis meses nós conseguimos internalizar essa tecnologia e iniciar o processo de produção a partir de um IFA importado. E em julho de 2021 nós incorporamos também a produção do IFA. Então começamos a produzir a vacina totalmente aqui nas nossas instalações”.

Maurício Zume, Diretor Geral de Bio-Manguinhos-Fiocruz

Maurício Zume, Diretor Geral de Bio-Manguinhos-Fiocruz – Divulgação/TV Brasil

Mas o que era para ser comemorado, até hoje enfrenta uma resistência impulsionada pelas fake news. Prova disso é que apenas 30% de crianças com até cinco anos de idade e de idosos com mais de sessenta anos completaram o esquema vacinal contra Covid.

A pesquisadora Ana Regina Barros Rêgo Leal, da Rede Nacional de Combate à Desinformação, afirma que “coisas que historicamente, que na história das pandemias, nunca foram contestadas, passaram a ser contestadas nesse momento, sobretudo com um incremento muito maior. E houve uma apropriação e isso foi levado para dentro das próprias instituições”.

Cinco anos depois, o Caminhos da Reportagem episódio “Covid-19: entre ausências e memórias” da próxima segunda-feira, 10 de março, vai relembrar a história da Covid no Brasil e no Mundo e também discutir os efeitos que perduram até hoje.

Ficha técnica:

Reportagem: Ana Graziela Aguiar
Apoio à reportagem: Ana Maria Passos
Produção: Acácio Barros e Ana Graziela Aguiar
Apoio operacional à produção: Lucas Cruz
Reportagem cinematográfica: JM Barboza
Apoio à reportagem cinematográfica: Gabriel Penchel
Auxílio técnico: Eduardo Domingues, João Batista de Lima, Jone Ferreira e Rafael Carvalho
Colaboração técnica: Caio Araújo
Edição de texto: Ana Graziela Aguiar
Apoio à edição de texto: Carina Dourado
Edição e finalização de imagens: Rodrigo Botosso
Pesquisa de Acervo EBC-SP: Fábio de Albuquerque
Assessoria: Maura Martins
Artes: Aleixo Leite, Caroline Ramos e Wagner Maia
Trilha sonora original: Ricardo Vilas

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